Sejam Bem Vindos!!

Este blog foi criado para relatar minha experiencia com a Síndrome do Pânico, que tenho desde de 2002, e também minhas impressões sobre a vida.

Quando descobri que tinha a doença foi muito difícil, não a conhecia bem e não queria aceitar a situação. Por isso quero dividir minha experiencia com vocês, para poder divulgar este distúrbio e mostrar que o Pânico não tem cura, mas é controlável.

Também relato minha tragetória para descobrir quem sou, e o que um dia quero ser....

“ A vida é curta, por isso, faça amigos, perdoe os inimigos, faça planos, realize sonhos, quebre regras, faça outras, e nunca deixe de sorrir . Viver não é facil como imaginávamos, mas já que estamos vivos ame e viva como se o amanhã fosse incerto.” (Dani Mendes)

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Me reorganizando....quanta coisa em uma só pessoa!!

Bem pessoas, andei sumida, né?? 

Eu estava um pouco atarefada, trabalho, casa, marido, família, amigos,....
Esta semana preciso desabafar um pouco. Nos últimos meses tenho feito muitos progressos na terapia. Graças a Deus, este ano só tive uma crise no inicio de 2011 e atualmente estou ótima, mas ando mexendo, vasculhando sentimentos e emoções doloridos.  
Este ano foi o ano de enfrentar medos e sentimentos, e quando acho que já resolvi tudo, sempre acontece alguma coisa para me lembrar que existem “coisas” que estão escondidas e que eu não quero mexer, tenho medo do que vou encontrar....
É estranho me dar conta que tenho medo de me enfrentar, de enfrentar o que eu sinto! De olhar no espelho e admitir que me fizeram sofrer  e que estou magoada, de falar que já tive raiva, de contar que já me machuquei e que ainda dói!!!
Tudo isso aconteceu há tanto tempo, e eu guardei dentro de 100 caixas para não ser visto nem descoberto, mas nem tudo pode ficar guardado e agora tenho que lidar com esta gama de emoções que estão saindo, vazando, vindo de longe para eu resolver, para eu enfrentar!
Eu tenho pânico por não saber lidar com isso! Por esconder o que sento, por pensar demais, por não me atrever mais, por ter medo de me machucar denovo...
No fim, viver é isso! Não que eu não viva, mas poderia ser mais feliz se ousasse mais, se enfrentasse mais, se assumisse meus sentimentos (dor, amor, raiva, decepção, negação, afirmação) e se aprendesse a pensar  mais em mim.
Estou um pouco desorganizada...desculpe! Vou reorganizar minhas ideias e volto para contar pra vocês!
Bom fim de feriado e vamos que vamos.....
Bjos

A gente se acostuma....

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

(1972)